“Natação é a minha fonte de juventude” – entrevista com Marta Izo


Marta Izo é uma das atletas mais inspiradoras quando falamos de natação. Professora, treinadora e ultramaratonista, ela considera a natação não só o seu maior hobby, mas também um estilo de vida. Tivemos a oportunidade de bater um papo com a mulher que atravessou o canal da mancha e que comemora os seus cinquenta anos se preparando para o seu próximo grande desafio: a maratona do Golfo Capri-Napoli. Está buscando alguém em quem se inspirar? Confira abaixo.
Como começou a sua relação com a natação? E quando você soube que essa seria sua profissão?
“Comecei aos sete anos junto com minha irmã de seis. Ela tinha bronquite e foi uma recomendação médica. E aos onze eu já era federada e disputava campeonatos juvenis! Na faculdade de Educação Física, mesmo sendo ex-atleta, eu nem pensava em voltar para as piscinas, queria trabalhar em escolas. Mas acabei conseguindo um estágio em uma academia de natação. Aprendi na marra como ser professora e treinadora, mas me identifiquei muito!”
Por que você decidiu se especializar no nado em águas abertas?
“Desde os meus 15 anos eu tinha o sonho de realizar o desafio do Canal da Mancha e foi por causa dele que escolhi essa especialização. Eu não tinha ideia de como era o desafio. Aos 34 anos de idade resolvi que estava na hora de realizá-lo. O Igor de Souza, ícone de maratonas aquáticas, me passou todas as informações e tive que modificar algumas coisas para conseguir nadar por horas e horas. Demorou um pouco para que eu conseguisse me adaptar, mas deu tudo certo.
E como é para você, hoje, aos 50 anos continuar praticando essa modalidade? O que você faz para se manter em alto nível?
A natação se tornou meu estilo de vida e ela é a minha fonte de juventude. Eu me sinto livre na água, sem limites. São raros os momentos em que a minha idade vem me dar um “alô”… uma dorzinha nas costas depois de um treino puxado, mas faz parte, certo? Eu não sou uma atleta profissional e nem de alto nível, muitos acham que sim. Pode ter certeza que amo o que eu faço e acho que é por isso que as coisas acontecem!”
Como você tem se preparado para a Maratona do Golfo Capri-Napoli deste ano?
“Minha preparação não está sendo diferente das outras: nado seis vezes por semana. Logo mais terei que dobrar isso por duas vezes na semana. Tenho acompanhamento médico e nutricional e quando a prova estiver mais próxima, terei treinos mais longos (em represa ou mar). Tudo isso, trabalhando normalmente!
Sabemos que você atravessou o canal da mancha três vezes. Você considera esses feitos o ápice da sua carreira?
“Com certeza! A minha vida pode ser dividida entre Martinha A.C (antes do canal da mancha) e Martinha D.C (depois do canal da mancha). Em 2006 quando fiz o solo, eu tinha pouco conhecimento e noção do que estava por vir. Vendi meu carro, fiz empréstimo no banco, gastei tudo que eu tinha e valeu muito a pena! Em 2011, no revezamento, éramos um quarteto só de mulheres e fomos sem cobrança nenhuma, apenas para descontração e aí… 2 recordes mundiais: de ida e volta!
Outro grande feito da minha carreira foi em 2017. Fiz 193 quilômetros descendo o rio Hudson em Nova York. Cada trecho se iniciava em uma ponte – fizemos 8 pontes! As pessoas conseguiam nos acompanhar via GPS, fomos bolinhas coloridas durante 7 dias. Conseguia sentir a torcida, foi emocionante.
Como foram os seus treinos quando você participou do desafio do canal da mancha na modalidade solo?
“Tensos e intensos! Lembro como a primeira semana de janeiro foi dolorida. Estava parada há 17 anos.Tivemos treinos dobrados, treinos em represa de madrugada, com neblina e água gelada. Foi muito marcante, fiz na academia onde trabalho e perto de terminar, a piscina estava lotada e todos aguardavam eu terminar. Chorei muito e foi emocionante, mas acredita que não tenho nenhuma foto? Dizem que os melhores momentos de nossas vidas não conseguimos registrar com fotos e filmes, não é?
Quais os principais desafios que você enfrenta na preparação de novos atletas?
“Acredito que a parte psicológica. Temos aqueles que precisamos dar um “empurrãozinho” e aqueles que precisamos frear. Preciso ser bem realista mas tomo cuidado para não acabar com o sonho deles. Exijo o melhor deles e acho que acredito mais neles do que eles mesmos!

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